Ao aceitarmos a tarefa de analisar imagens em movimento, percebemos que,
diferentemente da leitura de um texto, no qual passamos nossos olhos por todas as palavras e
interpretamos a mensagem ali escrita, ao assistirmos a uma obra audiovisual, nem sempre
notamos de forma consciente tudo que está sendo apresentado naquela imagem. Não só os
planos costumam possuir uma curta duração, como também nossos olhos, que apesar de
poderem “viajar” pelo quadro, costumam focar na ação dos personagens, frequentemente
abstraindo o que está os rodeando. Bordwell explica que, às vezes,
os olhos seguem objetos que se movem lentamente por meio de movimentos
suaves de busca; porém, na maior parte do tempo, nossos olhos pulam de um
lugar a outro, três ou quatro vezes por segundo, por meio de pequenos saltos
que chamamos de movimentos sacádicos. Esses movimentos exploram o meio
ambiente, focalizando com precisão apenas alguns fragmentos e por somente
um quarto de segundo. Se o assunto valer a pena investigar, micromovimentos
sacádicos movem a fóvea ligeiramente para o alvo. O processo de busca visual
é ativo, rápido e decorre de nossa herança biológica. Sondar o ambiente e nele
detectar mudanças fixando os aspectos essenciais constituiu uma evolução
muito vantajosa para os mamíferos como nós (Bordwell, 2008, p. 67).
O diretor de fotografia Vilmos Zsigmond, (apud Bordwell, 2008, p. 68), comenta que
“quando uma tomada vai ficar na tela só por três segundos não há tempo para decidir o que é
importante, então, você tem de dirigir o olhar, forçar mesmo”.
As técnicas de iluminação, composição e interpretação reforçam nossa deriva
natural em direção a corpos, olhares e expressões faciais. E o diretor que
coloca muita coisa competindo pela nossa atenção, provavelmente, nos guiará
cuidadosamente para os lugares mais importantes. Muitas táticas de
encenação, portanto, podem ser encaradas como maneiras de administrar a
busca visual do espectador - não necessariamente “forçá-lo”, no sentido forte
de Zsigmond, mas guiá-lo ou proporcionar uma linha de menor resistência,
que, pelas pressões inerentes à situação da sala de cinema, arrastará a maioria
dos espectadores [...]. Com muito mais frequência do que admitimos, as
escolhas estilísticas atendem à denotação narrativa, principalmente por sugerir
onde olhar e onde não olhar- sempre tendo em mente que o interesse do
espectador está também sujeito à magia gravitacional dos corpos desenhados
com a luz da tela (Bordwell, 2008, p. 69).
As falas de Zsigmond e Bordwell corroboram a nossa crença de que no ato de assistir a
um filme ou a uma série não apreendemos a totalidade das cenas, porque todo plano contém
uma pluralidade de enunciados narrativos que se superpõem. Contudo, o fato de não repararmos
em tudo que está na imagem não diminui a importância de cada elemento, visto que, mesmo
sem notarmos de forma consciente, impressões são capturadas e afetam sobremaneira a nossa
percepção do filme ou da série.
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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 3 | set-dez | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás