Revista Coletivo Cine-Fórum | v. 3 - n. 1 | jan-abr | 2025 | ISSN: 2966-0513 | DOI: 10.63418/rccf.v3i1.70  
Submetido em: 15/01/2025 Aceito em: 06/02/2025  
Amanda Maria de Sobral  
Gomes  
Mestranda do Programa de  
Pós-Graduação em  
RACISMO E MISOGINIA NA COMUNIDADE COSPLAY: ANÁLISE  
INTERSECCIONAL DE COMENTÁRIOS NO CANAL MAGIC  
PHYRA  
Comunicação Social da  
Universidade Federal de  
Minas Gerais, pela linha de  
pesquisa Processos  
Comunicativos e Práticas  
Sociais. Graduada em  
Jornalismo pela mesma  
instituição. Integra o Grupo  
de Pesquisa em  
Comunicação, Raça e  
Gênero (CORAGEM) da  
UFMG, liderado pela  
professora doutora Laura  
Guimarães Corrêa, e pelo  
professor doutor Pablo  
Moreno Fernandes Viana.  
Pesquisa questões  
RESUMO  
O trabalho utiliza da intersecção de raça e gênero para analisar os comentários no vídeo  
MEU EXPOSED (e o preconceito na comunidade cosplay) da influenciadora digital negra,  
Magic Phyra. O objetivo é observar como violências interseccionais ocorrem em espaços  
digitais e físicos dedicados à comunidade cosplay, quais são os impactos e o enfrentamento  
e permanência ou não de pessoas que gostam da prática. Como referencial teórico, é  
acionado os conceitos de culturas, representação, estereótipo, imagens de controle,  
interseccionalidade, cultura de fãs, bem como a sua problematização. Como metodologia,  
foi analisado o conteúdo do vídeo de Magic, bem como os 90 comentários públicos dos  
vídeos. Foram criadas seis categorias de análise, focando em percepções de preconceito,  
racismo, misoginia e sexismo, clareamento de pele, desencorajamento e autoaceitação de  
cosplayers ou de pessoas que desejam iniciar ou voltar para a prática. Como resultados, as  
violências interseccionais são os principais fatores que afastam ou desencorajam a  
participação na comunidade. Muitas pessoas negras afirmaram clarear a pele com  
maquiagem e edição de fotos, perder peso e fazer cirurgias para se encaixar nas expectativas  
do padrão de personagens. A baixa representatividade negra no audiovisual limita as  
escolhas das pessoas negras, as fazendo se sentirem inseguras na hora de interpretar  
personagens brancos ou amarelos. Entretanto, com a influência digital, está sendo comum  
encontrar pessoas negras cosplayers, servindo de inspiração para outras, como é o caso de  
Magic Phyra, que enfatiza sobre a autoaceitação, adaptação do cosplay a seus corpos e de  
que a prática deve ser divertida e prazerosa para todas as pessoas.  
relacionadas a gênero e  
raça dentro da subcultura  
gótica, através de mídias  
digitais.  
Palavras-chave: Cosplay. Cultura de Fãs. Interseccionalidade. Misoginia. Racismo.  
RACISM AND MISOGYNY IN THE COSPLAY COMMUNITY:  
INTERSECTIONAL ANALYSIS OF COMMENTS ON THE MAGIC  
PHYRA CHANNEL  
ABSTRACT  
This paper uses the intersection of race and gender to analyze the comments on the video  
MY EXPOSED (and prejudice in the cosplay community) by the Black digital influencer  
Magic Phyra. The aim is to observe how intersectional violence occurs in digital and physical  
spaces dedicated to the cosplay community, what the impacts are, how people who enjoy the  
practice cope with it, and whether they stay. As a theoretical framework, the concepts of  
cultures, representation, stereotypes, images of control, intersectionality, fan culture, and  
their problematization are used. As a methodology, the content of the Magic Phyras’s video  
was analyzed, as well as the 90 public comments on the videos. Six categories of analysis  
were created, focusing on perceptions of prejudice, racism, misogyny and sexism, skin  
bleaching, discouragement, and self-acceptance of cosplayers or people who want to start or  
return to the practice. As a result, intersectional violence is the main factor driving away or  
discouraging participation in the community. Many black people said they lightened their  
skin with make-up and photo editing, lost weight, and had surgery to fit in with the  
expectations of the standard characters. The low level of black representation in audiovisual  
media limits black people's choices, making them feel insecure when it comes to playing  
white or yellow characters. However, with digital influence, it's becoming common to find  
black cosplayers who inspire others, such as Magic Phyra, who emphasizes self-acceptance,  
adapting cosplay to their bodies, and that the practice should be enjoyable for everyone.  
Este artigo passou por  
avaliação por pares cega e  
software anti-plágio.  
LICENÇA ATRIBUIÇÃO NÃO  
COMERCIAL 4.0 INTERNACIONAL  
CREATIVE COMMONS CC BY-NC  
Keywords: Cosplay. Fan culture. Intersectionality. Misogyny. Racism.  
REVISTA COLETIVO CINE -FÓRUM  
INTRODUÇÃO  
Este trabalho tem o intuito de analisar casos de racismo e misoginia na  
comunidade cosplay, observando como representações criadas e transmitidas ao longo  
dos séculos até os dias atuais acabam afetando pessoas racializadas e mulheres de  
todas as idades. O termo cosplay é conceituado como a junção dos termos cos (fantasia)  
e play (brincar, encenar), onde as pessoas, denominadas cosplayers, se fantasiam de seus  
personagens ou artistas preferidos, agindo como eles agiriam.  
Será utilizada uma bibliografia que aborda sobre culturas e a representação de  
pessoas negras, observando estereótipos e a pouca presença negra no audiovisual,  
sendo ela composta, muitas vezes, de papéis marginalizados, além de serem  
objetificadas e sexualizadas, utilizando da interseccionalidade. A seguir, será discutido  
sobre a cultura de fãs, suas práticas, impactos na cultura hegemônica e estereótipos,  
além da contextualização sobre a prática de cosplay. A bibliografia investigará como  
raça e gênero podem ser articulados na cultura cultura geek, também conhecida como  
nerd.  
Com o objetivo de refletir sobre as perguntas como racismo e a misoginia ocorrem  
na comunidade cosplay? E quais são as consequências dessas violências? Serão analisados os  
comentários do vídeo MEU EXPOSED (e o preconceito na comunidade cosplay), publicado  
em 2022, pela influenciadora digital negra Magic Phyra. Dos 499 comentários públicos,  
foram selecionados para a análise os que continham relatos pessoais sobre a prática de  
cosplay. Esses comentários foram separados em seis categorias criadas para este  
trabalho. Por questões de ética, privacidade e para evitar a exposição de pessoas  
menores de idade, os comentários foram analisados como um todo, em vez de  
selecionar casos específicos.  
CULTURAS, REPRESENTAÇÃO NEGRA E INTERSECCIONALIDADE  
O termo cultura, do latim colere, significa cultivar a terra e os animais, se  
associando à sobrevivência e à dimensão material, porém, o significado foi se  
ampliando e diversificando. Vera França et al. (2015), discutem que no século XVI,  
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durante o período colonial, a cultura começou a ser relacionada ao refinamento  
humano, separando o mundo civilizado da barbárie. Já no século XIX, a “cultura se  
torna um substantivo autônomo, nomeando um processo abstrato ou o resultado de  
tal processo, que são as edificações da sociedade humana” (p. 104), se associando a  
normas e leis que regem uma sociedade e que pune os desviantes, além de se tornar  
uma forma de comparação de avanço social (Hall, 2016). Essa ideia de uma cultura  
avançada criou o imaginário de que a Europa era civilizada, enquanto o restante do  
mundo deveria seguir os mesmos passos, sendo sempre considerados atrasados moral  
e culturalmente.  
A partir das discussões e dos estudos raciais, iniciou-se às tentativas de  
disseminar a ideia de que existem diversas culturas, que estão em constantes  
transformações, podem coexistir e variam de acordo com local, época, entre outros  
fatores. Portanto, é importante ressaltar que a cultura é socialmente construída,  
compartilhada, modificada, disputada e imposta. Ela remete a significados e  
representações, que se constroem e reconstroem em interação com o outro (França et  
al., 2015). A representação, embora seja um conceito complexo e muito diverso, quando  
relacionado a semiótica tem o sentido de substituição “de algo que está no lugar de  
alguma coisa que não se faz presente, que se mostra distante no tempo e no espaço”  
(Corrêa, Silveira, 2015, p. 208). Sendo assim, a linguagem representa aquilo que existe  
no mundo real, porém, não é uma cópia da realidade, pois há uma redução de sua  
complexidade. A sociedade, por meio de sua cultura, utiliza da linguagem para  
produzir sentido socialmente compartilhado, sendo uma dentre diversas  
possibilidades de ler/interpretar um signo. Por consequência, as representações, bem  
como as culturas, estão ligadas às hierarquias, às relações de poder, às disputas, às  
tensões e aos conflitos, pois “as representações [...] são construídas e reconstruídas nas  
experiências e interações comunicativas entre pessoas e grupos, seja nas relações face  
a face ou por meio dos dispositivos midiáticos” (idem, p. 212).  
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Stuart Hall (2016) traz como foco a representação e a estereotipagem de pessoas  
negras na comunicação e nas mídias, onde criou-se a demonização da África, de seus  
habitantes e de suas diferentes culturas, justificando a escravidão de pessoas e  
exploração do território. Por serem diferentes (no fenótipo e na cultura) eram  
denominados como o Outro não-branco. O estereótipo seria a redução de uma pessoa  
ou grupo social a “poucas características ‘simples, vívidas, memoráveis, facilmente  
compreendidas e amplamente reconhecidas’ [...] tudo sobre ela é reduzido a esses  
traços que são, depois, exagerados e simplificados” (p. 191). A estereotipagem cria uma  
separação e hierarquização entre o normal e o anormal, contribuindo para a  
“manutenção da ordem social e simbólica” (p. 192), já que ela ocorre onde há  
desigualdade de poder, reafirmando a hegemonia.  
Por meio das ciências, de romances e do cinema (que se popularizou no início  
do século XX), por exemplo, foram criados e propagados em grande escala estereótipos  
raciais e de gênero, que foram transmitidos e replicados através do tempo nos  
diferentes tipos de mídias e, embora haja resistência e mudanças, até os dias atuais, é  
possível encontrá-los. Entre pessoas negras, Hall (2016) aponta alguns estereótipos: do  
Pai Tomás e da Mommy, ou mãe preta, no qual a suposta selvageria de negros foi  
substituída pela eterna bondade, lealdade e cuidado pelos senhores e por suas  
famílias, além de serem figuras assexuadas e vistas como objeto de trabalho; o  
malandro, relacionados à preguiça e à marginalidade; a mulata trágica, mulher mestiça,  
hipersexualizada, sedutora, exótica e atraente para homens brancos, devido ao seu  
sangue parcialmente branco, porém, seu sangue negro a condena para um fim trágico;  
e o mal-encarado, homens negros grandes, fortes, violentos e supersexualizados.  
Conforme demonstram Laura Guimarães Corrêa e Mayra Bernardes (2019), a  
presença de pessoas negras no audiovisual embora vem crescendo a partir de debates  
e exigencias do público por representatividade , em geral foi associada a  
marginalidade, escravidão, pobreza ou esportes, sendo menos comum encontrá-las em  
ambiente familiar e na presença de outras pessoas negras. Por isso, as pesquisadoras  
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conceituam o fenômeno do Negro Único, caracterizado como “a única pessoa negra  
em meio a um mar de pessoas brancas, seja em campanhas publicitárias, capas de  
revistas, telenovelas, telejornais, etc” (p. 207). Além de serem únicas, havia “pouca  
variedade de figuras públicas negras que conseguem ser suficientemente reconhecidas  
para ocuparem esses espaços, já que a maioria das capas exaltam o sucesso profissional  
das mulheres, incorrendo na repetição sistemática das mesmas figuras nos mesmos  
espaços” (p. 208). Assim, uma única pessoa carrega a responsabilidade de representar  
todo um grupo social. Embora com a internet e com a influência digital, pessoas negras  
diversas possam receber visibilidade, em mídias tradicionais ainda há sub-  
representação.  
Sueli Carneiro (2021) aborda a sub-representação de pessoas racializadas  
apontando que, essas imagens estereotipadas e únicas de pessoas negras é uma  
característica do racismo. Enquanto pessoas brancas são indivíduos, múltiplos e  
complexos, pessoas negras, amarelas e indígenas só tinham um único representante,  
passando a ideia de que todos daqueles grupos eram iguais. “A branquitude é,  
portanto, diversa e policromática. A negritude, no entanto, padece de toda sorte de  
indagações” (p. 71). Essa representação única contribuiu para a ausência de identidade  
racial ou confusão, já que a miscigenação racial atribuiu dificuldades de  
autoclassificação. Carneiro (2021) aponta que a identidade étnica e racial é  
historicamente construída, mas também, destruída, porque as pessoas racializadas são  
incentivadas a embranquecer desde o período colonial.  
Dessa forma, é necessário olhar para culturas, representações e raça de maneira  
interseccional, para evitar invisibilidades e buscar dar voz a grupos sociais  
marginalizados. O conceito de interseccionalidade é uma metodologia utilizada para  
repensar e complexificar como enxergamos categorias sociais como raça, gênero,  
idade, sexualidade, classe, entre outros, observando como elas agem de forma  
conjunta e simultânea, podendo ocasionar em opressões, invisibilidades e  
desempoderamento. A interseccionalidade, cunhado por Kimberlé Crenshaw, busca  
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dar visibilidade para vivências de mulheres negras que sofrem opressões racistas e  
misóginas, por não serem brancas e nem homens, sendo tratadas como anomalias, por  
não se encaixarem nos padrões de feminilidade impostos às mulheres brancas (Davis,  
2016; Collins, 2019). “A interseccionalidade visa dar instrumentalidade teórico-  
metodológica  
à
inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo  
e
cisheteropatriarcado (Akotirene, 2019, p. 14).  
É interessante entender o conceito de representatividade, um fenômeno que  
deve apresentar a representação/presença de pessoas não-hegemônicas; ter mais de  
uma; que seja uma presença com camadas; e que tenham histórias diversas e  
complexas (Pillar, 2021). A representatividade busca ir contra estereótipos, podendo  
ser espaços de autodefinição, que visa a criação de imagens autênticas, que valorizam  
a pluralidade de pessoas, resistindo a desumanização de grupos não-hegemônicos,  
como pessoas negras (Collins, 2019).  
Em síntese, é notável que a cultura e a representação podem expressar normas  
e valores de uma determinada sociedade, mas essa mesma estrutura pode criar e  
reforçar estereótipos de grupos sociais marginalizados, que devem aceitar ou  
constantemente resistir a essas formas de violência. Mídias como livros, filmes, séries,  
entre outros produtos audiovisuais, acabam reforçando esses estereótipos, fazendo a  
manutenção da hegemonia (Hall, 2016). Portanto, a cultura se mostra um importante  
ponto de partida para análises interseccionais, pois ela produz e reforça o pensamento  
hegemônico, podendo causar sub-representações estereotipadas. O cruzamento de  
raça e gênero apresentados neste trabalho, se mostra fundamental porque traz maior  
complexidade aos estudos culturais, ao olhar para os grupos marginalizados e  
identificar as opressões sofridas e como elas funcionam juntas (Corrêa, 2020).  
CULTURA DE FÃS  
Segundo Henry Jenkins (1992), a cultura de fãs pode ser entendida como um  
fenômeno complexo e multidimensional, existindo diferentes maneiras de  
participação e engajamento de um grupo social, para a construção e transmissão de  
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sua própria comunidade. Assim, a cultura de fãs é uma subcultura, “que existe nas  
‘fronteiras’ entre a cultura de massa e a vida cotidiana e que constrói sua própria  
identidade e artefatos a partir de recursos emprestados de textos já circulantes” (p. 2,  
tradução minha1). A partir de produtos midiáticos, tais como programas televisivos,  
filmes, música, livros e celebridades, os fãs criam seu próprios conteúdos, como fan  
fictions (ficção, histórias), fanarts (artes tanto físicas quanto digitais), fan videos  
(produção e edição de vídeos) e fanzines (revistas), por exemplo. Dentro da cultura de  
fãs, existem os fandoms, ou fã clubes, onde diferentes pessoas compartilham seu  
interesse, compromisso por um produto cultural específico, criando, assim, a fanbase  
do produto. Cada fandom pode ter um nome que remeta ao produto cultural2 e, com a  
internet, pessoas do mundo inteiro podem se reunir, interagir, consumir, produzir e se  
dedicar em conjunto (Jenkins, 1992; Gomes, Carvalho, 2022).  
Apesar da importância econômica e cultural dos fãs, existem estereótipos. O  
termo em inglês fan, é abreviação de fanático, que tinha como sentido a devoção  
religiosa ou política. Porém o termo assumiu uma conotação negativa, simbolizando  
uma crença excessiva e sendo ligada à loucura. Em relatos jornalísticos, a abreviação  
fan foi utilizada pela primeira vez no final do século XIX para representar a paixão de  
torcedores por seu time e, logo, passou a denominar a paixão também por outros  
produtos culturais, mas ainda estava associado ao excesso. Devido a isso, foi-se  
criando a “concepção estereotipada do fã como emocionalmente instável, socialmente  
desajustado e perigosamente fora de sincronia com a realidade” (Jenkins, 1992, p. 13,  
tradução minha3), sendo representados em produções audiovisuais como pessoas  
“isoladas, emocional e socialmente imaturas, incapazes de alcançar um lugar  
adequado para si mesmos na sociedade e, portanto, propensos a substituir realidades  
1 that exists in the “borderlands” between mass culture and everyday life and that constructs its own identity and  
artifacts from resources borrowed from already circulating texts.  
2
Fãs da boy band coreana BTS são denominadas(os) armys, já fãs do cantor Justin Bieber são beliebers, por  
exemplo.  
3
stereotypical conception of the fan as emotionally unstable, socially maladjusted, and dangerously out of sync  
with reality.  
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sombrias por ricas fantasias da mídia” (idem, p. 14, tradução minha4). Dentro do  
estereótipo do fanático, há distinções de gênero. As mulheres estavam relacionadas ao  
mito do fã orgiástico, ou groupie, no qual acreditava-se que elas tinham desejo sexual  
e fantasias eróticas por artistas e personagens, além de serem relacionadas à histeria,  
aos gritos, ao choro e à sexualização. Esse imaginário vinha tanto de participantes do  
próprio fandom, quanto de pessoas de fora, pois era uma imagem divulgada em mídias  
e jornais. Já os homens, estavam relacionados a psicopatia e/ou ao nerd sem gênero,  
dessexualizado ou feminilizado, impotente, sem experiência social, infantil e imaturo.  
Para entender a lógica por trás dos estereótipos dos fãs, Jenkins (1992) propõe o  
termo gosto (taste, em inglês), existindo o bom gosto (da elite) e o mau gosto (popular).  
Os gostos são interesses de classes particulares, construídos socialmente, e podem ser  
considerados como apropriados ou não. Assim, quem tem bom gosto merece posição  
privilegiada na hierarquia social, enquanto o mau gosto pode ser marginalizado. Na  
época, Jenkins (1992) propôs que cultura pop fosse considerada de mau gosto, logo,  
inaceitável, como a cultura geek. Apesar disso, se interessar por produtos culturais  
amplamente divulgados, ou não, faz parte das vivências pessoais, pois interagir com  
pessoas com gostos semelhantes é uma forma de criar comunidade, os fandoms, sendo  
essa uma prática comum na cultura de fãs. Na cultura geek, as convenções de ficção  
científica são uma forma de reunião. As convenções surgiram nos Estados Unidos, em  
1930, e foi renovada nos anos 1990, no Japão, a partir do sucesso dos mangás5. Essas  
convenções chegaram em território brasileiro, entre 1996 e 1997. Uma prática comum  
nesses eventos é o cosplay, que se consiste na caracterização e atuação de determinado  
personagem ou personalidade (Nunes, 2013; Jenkins, 2020).  
Mônica Rebecca Ferrari Nunes (2013) pontua que fazer cosplay não é apenas  
uma atividade de se fantasiar, mas sim interpretar todo jeito do personagem, como  
poses, falas e personalidade, podendo receber o afeto e julgamento de outros fãs, já  
4 each of which represent fans as isolated, emotionally and socially immature, unable to achieve a proper place for  
themselves in society, and thus prone to replace grim realities with rich media fantasies.  
5 Histórias em quadrinhos japonesas.  
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que em eventos de cosplay é comum ter concursos que elegem a melhor fantasia e  
representação. Em seu artigo, há entrevistas com cosplayers que afirmam, assim como  
indica Jenkins (1992), sofrer julgamentos, sendo alvo de piadas ou vistos como infantis  
por pessoas de fora da comunidade. Entretanto, os fãs resistem e mostram não se  
importar, pois alegam que o cosplay é uma forma de expressarem e de se libertarem de  
certas normas da sociedade. Esses eventos são vistos como locais sem julgamentos, ou  
até mesmo, como uma como família, devido ao afeto, respeito e interesses em comum.  
Bryan Jenkins (2020) indica que os geeks ainda são um grupo social  
marginalizado por pessoas de fora da comunidade, devido aos seus gostos, por  
participarem de fandoms que podem não ser amplamente aceitos, seja pela idade,  
gênero, dentre outros fatores. Embora todo o grupo seja marginalizado, dentro dele,  
ainda há hierarquias com base em raça e gênero, principalmente. A maior parte da  
mídia da cultura geek é centrada em homens brancos e criada por eles. O que foi notado  
é que a maioria dos personagens são brancos, enquanto as personagens femininas são  
feitas com roupas sexualizadas e com corpos em proporções irreais. Assim, nos  
eventos, mulheres que fazem cosplay de personagens femininas hipersexualizadas  
estão sujeitas a atenção indesejada, intencional ou, até mesmo, desconfortável dos  
homens (Jenkins, B., 2020; Nisbett, 2018). E devido aos corpos irreais, as mulheres  
podem sofrer body shaming, por não terem o corpo idêntico ao da personagem. No  
mais, cosplayers brancos defendem o uso de blackface, ato de se maquiar com o intuito  
de parecer uma pessoa negra em suas fantasias, enquanto limitavam pessoas não-  
brancas de fazerem cosplay de personagens brancos (Jenkins, 2020).  
Gwendelyn Nisbett (2018) também mostra que a cultura geek é marcada pela  
forte presença cis-masculina, branca e jovem e, buscam preservar essa dominância,  
considerando como intrusos aquelas/es que não sigam o padrão. As mulheres não são  
consideradas como fãs de verdade e nem como membros dedicadas quanto os homens,  
sendo subestimadas e tendo que, constantemente, provar seus conhecimentos e  
lealdade: “Alguns fandoms foram percebidos como mais abertos e amigáveis com as  
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mulheres, enquanto outros foram percebidos como mais sexistas. Alguns fandoms são  
óbvios sobre a misoginia, tanto no conteúdo quanto no fandom” (p. 179, tradução  
minha6).  
Dentro do fandom, grupos sociais marginalizados, como mulheres e pessoas  
negras, continuam sofrendo opressão e violências. No caso da cultura geek, esses  
grupos são sub-representados ou hiperssexualizados, fazendo que a participação nos  
fandoms seja algo doloroso ou pouco prazeroso. Há uma constante marginalização de  
mulheres, pessoas racializadas, podendo levar esses grupos a se afastarem de eventos  
de cosplay e convenções, esconder suas identidades em interações on-line, além de não  
encontrarem muitos personagens com os quais se identifiquem (Jenkins, 2020; Nisbett,  
2018).  
Embora a cultura de fãs pode ser relacionada a estereótipos negativos, que  
variam conforme o gênero, e ser considerados de pouco valor (mau gosto), é notório  
que, por ser produzida majoritariamente por homens cis-gênero, brancos, de classe  
média e jovens, é necessário reconhecer que esses produtos culturais recebem ampla  
divulgação, investimento econômico e apreço social, justamente por ser produzido por  
um grupo social hegemônico e privilegiado socioeconomicamente. Assim, quando  
comparado com a produção de pessoas fora desse padrão, é possível notar menos  
notoriedade e, quando são produtos criados por pessoas racializadas, por exemplo, há  
toda uma discriminação racista que atinge todo o grupo. Por mais que Jenkins (1992),  
na década de 1990, aponte a marginalização de geeks e/ou nerds, é possível perceber  
que seus produtos são vistos como inferiores, porém, não como algo criminalizado,  
como foi o caso da capoeira, no Brasil. A partir da interseccionalidade, é possível olhar  
não apenas para a década da produção da obra, na qual já havia fortes debates raciais,  
como também para Jenkins: homem cis-gênero, branco, de classe média e com ensino  
superior.  
6 Some fandoms were perceived as more open and friendly to women while others were perceived as more sexist.  
Some fandoms are obvious about misogyny, in both content and fandom.  
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METODOLOGIA E OBJETO  
Como metodologia para observar casos de racismo e misoginia na comunidade  
cosplay brasileira, serão analisados os comentários do vídeo MEU EXPOSED (e o  
preconceito na comunidade cosplay)7, da influenciadora digital conhecida pelo nome de  
Magic Phyra. A influência digital pode ser entendida como uma forma de formar a  
opinião de um determinado público, ao publicar (fotos, vídeos, dentre outras mídias  
digitais) o seu cotidiano, opiniões e resenhas de produtos, tendo “a capacidade de  
‘incutir na massa’ ideias, valores e informações que o conjunto da população  
absorveria sem maiores críticas ou decodificações” (Karhawi, 2017, p. 52). Em mídias  
digitais, é possível perceber protagonismo negro, nos quais, pessoas negras, com  
acesso à internet e ferramentas de produção de vídeos, ganham espaço para falarem  
sobre uma infinidade de assuntos, além de trazer pautas raciais e de gênero (Corrêa,  
Bernardes, 2019).  
A influenciadora digital Magic Phyra foi escolhida para a análise, pois, além de  
se identificar como uma mulher negra, atua como cosplayer, cosmaker8 e streamer9 nas  
redes sociais Instagram (cerca de 188 mil seguidores), Facebook (cerca de 1 mil  
seguidores), Youtube (cerca de 46,8 mil inscritos), TikTok (cerca de 1,7 milhões de  
seguidores), Twitter (cerca de 3,5 mil seguidores) e Privacy. Magic iniciou com o  
cosplay durante a sua infância e, em 2019, aos 23 anos de idade, criou uma conta no  
Facebook para compartilhar seus cosplays.  
Com o aumento de sua popularidade e criação de outras redes sociais com foco  
na comunidade cosplay, passou a ter o objetivo de apoiar e incentivar pessoas que  
desejavam iniciar na prática. Em seu post de 10 mil seguidores, em maio de 2020, Magic  
escreveu que, depois que passou a levar o cosplay a sério, desejava “conseguir  
transmitir às pessoas o que eu não tive quando comecei... Apoio, conselhos, confiança,  
ser alguém que faz você acreditar que independente da sua idade, cor, gênero, ou  
7 Disponível em: https://youtu.be/Vhoe0eR8rCw. Acesso em: 27 jul. 2023.  
8 Junção de costume e maker, ato de criar suas próprias fantasias.  
9 Transmissões ao vivo na internet.  
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experiência, você consegue se divertir e fazer um ótimo trabalho” (Instagram:  
@magic_phyra10).  
Figura 1 Vídeo de Magic Phyra sobre seu exposed  
Fonte: YouTube (Magic Phyra)  
O vídeo MEU EXPOSED (e o preconceito na comunidade cosplay) (Figura 1) foi  
escolhido devido a sua relevância no YouTube, pois foi publicado em 3 de maio de  
2022 e já atingiu cerca de 77 mil visualizações, 13 mil “gostei”, e é o segundo vídeo  
mais visto de Magic Phyra. Até o dia 26 de julho de 2023, o relato da influenciadora  
contava com 520 comentários, sendo que 499 são públicos. No início, Magic declara  
que o vídeo foi feito a partir de um exposed sofrido, pelo fato de clarear sua pele com  
maquiagem e edição de fotos, indo contra a sua mensagem sobre auto aceitação  
(Figura 2). Exposed é um termo em inglês para “exposto(a)”, que pode ser definido  
como “a revelação de um fato criminoso ou questionável e de seu respectivo autor, em  
plataformas como Twitter e Instagram” (Vanini, 2020).  
Figura 2 Cosplays de Magic Phyra antes do exposed, em 19 de março e 3 julho de 2019 e, 13 de janeiro  
de 2020, respectivamente.  
Fonte: Instagram (@magic_phyra, montagem da autora).  
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Essa exposição fez Magic Phyra repensar sobre sua raça, a dificuldade em se  
autodeclarar como negra e ser aceita por outras pessoas. Porém, quando se declara  
como parda, muitas pessoas negam a existência dessa cor, por mais que o Instituto  
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utilize o termo em suas estatísticas  
(Carneiro, 2021). Apesar disso, Magic conta que já sofreu racismo em eventos de  
cosplay e que passou a clarear a sua pele nas fotos e vídeos para evitar esses  
comentários, para se aproximar mais da aparência de personagens e por ter poucas  
referências de pessoas negras que praticam cosplay. Assim, ela reforça que o cosplay  
deve se adaptar a pessoa, ao invés do contrário, e que, acima de tudo, o cosplay deve  
ser algo divertido e para todas as pessoas, com os mais variados tipos de corpos  
(Figura 3).  
Figura 3 Cosplays de Magic Phyra após o exposed, em 25 de novembro de 2020, 31 de agosto  
de 2021 e 19 de agosto de 2022, respectivamente.  
Fonte: Instagram (@magic_phyra, montagem da autora).  
Dessa maneira, dentre os 499 comentários públicos, a maioria tratava sobre  
colorismo, tema central do vídeo, mas se tornaram pertinentes para a análise apenas  
os comentários que possuíam relatos pessoais sobre a prática de cosplay. Foram  
selecionados 90 comentários que foram divididos em seis categorias criadas pela  
autora, sendo elas: Categoria 1: Percepção de preconceito (14); Categoria 2: Racismo (16);  
Categoria 3: Clareamento de pele (10); Categoria 4: Misoginia e sexismo (13); Categoria 5:  
Desencorajamento (16) e; Categoria 6: Auto aceitação e encorajamento (21). Para evitar a  
exposição indesejada na pesquisa e preservar a privacidade das pessoas que  
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comentaram, será feita uma análise do conteúdo dos comentários, sem a necessidade  
de exibi-los no corpo do trabalho.  
CATEGORIA 1: PERCEPÇÃO DE PRECONCEITO  
Nos comentários, em 14 é possível notar a percepção de preconceito dos  
participantes da comunidade em diferentes aspectos. Há relatos: nos quais é dito que  
pessoas iniciantes recebem mais críticas por não possuírem muito dinheiro ou  
habilidades suficientes para produzir suas fantasias; e que a pessoa comentarista, ou  
alguém próximo, recebeu críticas negativas por não serem idênticas ao personagem  
que representavam sendo a cor da pele e o peso os principais motivos. Essas críticas  
refletiam nos concursos de cosplay, nos quais pessoas negras e/ou gordas eram  
eliminadas pelos jurados, também participantes da comunidade. Enquanto isso,  
existiam comentários que informavam achar válido fazer alterações na cor da pele para  
chegar o mais próximo possível dos personagens e demonstrar profissionalismo e  
preocupação em fazer uma boa representação.  
Em diversos comentários, é notável o apontamento de um culpado por isso  
acontecer, sendo eles: o nerd, o otaku, o incel11 e a comunidade. Ocorre a separação do  
comentarista desse culpado ao revelar que não gosta da comunidade, embora faça  
parte. Alguns apontaram esse desejo de perfeição no cosplay como uma atitude  
fetichista, ao desejar para si, se relacionar com determinado(a) personagem que só  
existe em desenho, ou desejar relacionamentos afetivos e/ou sexuais com a pessoa  
cosplayers hegemônica, sendo ela branca, famosa e com corpo dentro dos padrões de  
beleza.  
Dessa forma, os comentários mostram que o preconceito na comunidade cosplay  
está presente em diferentes aspectos. Quando o cosplayer não atende às expectativas de  
outras pessoas da comunidade, ocorrem críticas e até mesmo exclusão, principalmente  
quando se trata da cor da pele. Além de muitas pessoas descreverem ambientes  
11 Involuntary celibates, ou celibatários involuntários, são pessoas que não conseguem estabelecer relacionamentos  
afetivos ou sexuais por mais que desejem.  
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presenciais e/ou digitais como “tóxico, elitista, branco” e que deixaram de participar  
por esses motivos. É possível notar a marginalização de pessoas negras, novamente  
sendo colocadas em locais muito limitados e solitários (Corrêa, Bernardes, 2019).  
CATEGORIA 2: RACISMO  
Dentre os comentários analisados, em 16 é possível notar que as falas  
racistas atingem diretamente cosplayers autodeclarados(as) negros(as). Essas pessoas  
perdem desfiles de cosplay, se sentem inseguras ao escolher e usar suas fantasias e  
sofrem ataques racistas de outras(os) cosplayers em espaços destinados para a diversão  
e para o compartilhamento de interesses em comum. Muitos relatos, inclusive o de  
Magic Phyra em seu vídeo, falam da constante associação do nome do personagem a  
cor da pele da(o) cosplayer em um tom negativo, como “Miko macaca”, “Nezuko  
Negona” ou “Mikasa preta”; que elogiavam a roupa, mas comentavam da cor da pele  
ou textura do cabelo não ser “corretos”; ou que não permitiam ou desincentivaram  
pessoas negras a fazerem determinados cosplays por não se parecer com o personagem  
branco(a) ou amarelo(a), sendo necessário escolher outra opção. Esse tipo de ataque  
fez com que muitas pessoas evitassem certas fantasias ou que não iniciassem ou  
permanecessem na prática de cosplay. Em casos de rivalidade entre fãs, ter cosplayers  
brancos criava a ideia de superioridade de determinado produto cultural em  
detrimento de outro, enquanto os negros eram desvalorizados. Além disso, nos  
comentários analisados há o apontamento para pouca presença negra nos produtos  
culturais geeks, deixando as pessoas negras inseguras para representar personagens  
brancos ou amarelos enquanto que, os personagens negros existentes, geralmente, são  
estereotipados.  
As pessoas ao redor buscam reafirmar a supremacia branca, por mais que isso  
ofenda as/os cosplayers ou pessoas que desejam iniciar a prática. É possível encontrar  
relatos nos quais as pessoas confessam que já sentiram vergonha, insegurança e até  
mesmo ódio por serem negras, além de terem medo da recepção da comunidade  
cosplay a sua fantasia de personagens brancas(os) ou amarelas(os). Esses discursos são  
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tão recorrentes na comunidade que pessoas autodeclaradas negras afirmaram já ter  
reproduzido discursos preconceituosos e racistas sobre cosplayers que não eram  
idênticos ao personagem.  
Conforme aponta Hall (2016), há estereótipos de pessoas negras que foram  
perpetuados por séculos como forma de dominação, limitando as possibilidades e as  
colocando como algo animalesco e inadequado fenotipicamente, sendo possível  
observar isso em produtos culturais, no qual a presença negra é menor e, muitas vezes,  
estereotipadas e sub-representadas (Carneiro, 2021). Os sentimentos negativos, como  
o ódio, relatado nos comentários vem dessa percepção e autopercepção negativa da  
negritude, a associando a elementos indesejados.  
CATEGORIA 3: CLAREAMENTO DE PELE  
Em 10 comentários é possível notar que cosplayers costumam clarear a pele com  
maquiagem ou evitar o contato com o sol para não se bronzear e evitar comentários  
racistas. Até mesmo pessoas autodeclaradas brancas evitam a exposição solar para  
evitar serem excluídas por outros cosplayers devido à pele bronzeada. Existem diversos  
relatos de pessoas autodeclaradas negras que se sentem inseguras com a cor de suas  
peles para representar personagens brancos ou amarelos, achando que não se  
encaixam. Esse medo ocorre pela falta de representatividade nos produtos culturais  
que consomem e pela pouca presença de cosplayers negros em convenções e redes  
sociais. Ademais, muitos relataram ter normalizado o clareamento de pele por achar  
comum editar fotos para clarear a pele ou, já ter presenciado pessoas se maquiando  
com tons mais claros.  
Essas pessoas, ainda na infância ou adolescência, apenas replicaram as práticas  
devido a autopercepção negativa do ser negro, muitas vezes recebidas nos próprios  
produtos que consomem, vendo no embranquecimento racial uma maneira de  
melhorar essa percepção externa e interna (Carneiro, 2021).  
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CATEGORIA 4: MISOGINIA E SEXISMO  
Em 13 comentários é revelado que, além da cor, a forma de seus corpos e gênero  
influenciam no cosplay. Pessoas com o gênero diferente do personagem recebiam  
críticas, já que seus corpos não cumpriam com as expectativas, não sendo possível  
alcançar o padrão.  
No mais, as mulheres deveriam ter um rosto e um corpo dentro dos padrões  
do personagem e, por mais que aqueles corpos sejam irreais, muitas recorrem a  
procedimentos estéticos e na perda de peso. Não cumprir com o requisito do corpo  
perfeito abala a confiança e autoestima de mulheres, adolescentes e até mesmo pré-  
adolescentes nos comentários. Apesar do corpo magro ser o padrão na cultura geek, ter  
pouco peso também não é suficiente, já que a maioria das personagens possuem o  
chamado “corpão”, com seios grandes, quadris largos e cintura fina.  
Quando há a intersecção de raça e gênero, é notável que há estereótipos acerca  
do corpo de mulheres negras. Lélia Gonzalez (2020), descreve três: a mãe preta,  
semelhante a Hall (2016); a doméstica, que tem a sua mão de obra explorada, prestando  
serviços em locais privados e segregados, por não possuírem a “boa aparência”, sendo  
idealmente o fenótipo branco; e a mulata, que eram mulheres negras jovens,  
hiperssexualizadas e desejadas em locais em que é objetificada, como no carnaval.  
Portanto, além da recepção negativa do ser negra, mulheres negras são limitadas ao  
trabalho e a sexualização e objetificação de seus corpos dentro e fora da comunidade  
cosplay, nunca estando aptas a alcançar o padrão de personagens brancas(os) ou  
amarelas(os), apesar dos procedimentos estéticos.  
CATEGORIA 5: DESENCORAJAMENTO  
16 pessoas nos comentários sentem medo de sofrer críticas e comentários  
racistas ao se fantasiar e, por isso, evitaram ou pararam com a prática. Haviam relatos  
onde a pessoa declarava adorar a prática ou que amava determinado personagem, mas  
não sentia que sua cor e seu corpo não se encaixavam ao dos personagens. Por nunca  
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se encaixar no fenótipo de pessoas brancas e amarelas, há a desistência de participar,  
como forma de evitar sofrer violências interseccionais.  
Pessoas autodeclaradas brancas também disseram ter sofrido críticas por não  
ter determinadas características físicas, ou por ter se fantasiado de um(a) personagem  
negro(a). No primeiro caso, houve maior aceitação mesmo que a cosplayer fosse branca,  
loira e usasse um cospobre (junção de cosplay e pobre, utilizado para falar que não houve  
grande investimento financeiro em sua fantasia). Nesse caso, seu problema foi a cor do  
cabelo, mostrando que não houve problema de uma pessoa branca interpretar uma  
personagem amarela. Enquanto o último caso, relata que cosplayers brancos também  
recebem comentários negativos ao interpretar personagens que não eram brancos ou  
amarelos. Essa situação foi recorrente quando se tratava do filme Pantera Negra, onde  
cosplayers brancos foram acusados de apropriação cultural.  
A partir disso, é possível notar que pessoas brancas têm uma percepção de sua  
própria raça mais positiva, não sendo esse um fator essencial na prática do cosplay,  
além de que as pessoas brancas têm maior aceitação social. Entretanto, interpretar  
personagens negros pode ser um problema, já que há a sub-representação negra no  
audiovisual, racismo e maior debates sobre representatividade (Pilar, 2021). A  
apropriação cultural pode ser apontada no sentido de que pessoas negras sempre  
tiveram impedimentos para contar e manter a sua história (como o epistemicídio), e  
quando uma pessoa branca faz o cosplay de personagens negras(os), pode ser um ato  
ofensivo devido ao blackface, utilizado no início do audiovisual nos Estados Unidos  
como forma de representar, ofender e estereotipar pessoas negras.  
CATEGORIA 6: AUTO ACEITAÇÃO E ENCORAJAMENTO  
Apesar de diversas pessoas terem confessado nos comentários não gostar da  
comunidade cosplay devido ao preconceito, às violências interseccionais e às  
expectativas irreais sobre seus corpos, 21 comentaram que a partir de conteúdos de  
influenciadoras digitais como Magic Phyra, foi possível refletir sobre auto aceitação e  
se encorajar para iniciar ou voltar aos cosplays, tendo em mente que a prática deve ser  
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algo divertido e que todos podem fazer, independente se é semelhante ao corpo e raça  
do personagem ou não. As pessoas se sentiram acolhidas e seguras para contar suas  
dores, experiências e memórias na seção de comentários do vídeo, e muitas afirmaram  
que a Magic era uma inspiração por se tratar de uma cosplayer negra, vinda de classe  
baixa, e que buscava incentivar a prática como algo divertido e não como uma  
opressão.  
É perceptível que, quando há representatividade (Pilar, 2021), com uma mulher  
negra, falando por si e contando sua história, percepções de violências interseccionais  
e encoraja outras pessoas a iniciarem em uma prática que se mostrou hostil para outras  
pessoas, pode gerar mudanças sociais, com pessoas negras ocupando mais espaços,  
nomeando as violências e buscando criar espaços seguros e de lazer, já que o cosplay  
deve, antes de tudo, ser divertido.  
CONSIDERAÇÕES FINAIS  
A partir da sessão de comentários do vídeo de Magic Phyra, é possível  
observar que, embora a cultura geek possa ser vista como algo marginalizado,  
estereotipado e de mal gosto, de acordo com os padrões culturais (Jenkins, 1992;  
Nisbett, 2018; Jenkins, 2020), dentro da própria comunidade, há hierarquias, opressões  
e não aceitação de grupos sociais já marginalizados socialmente. Assim, “Esse grupo  
de homens geeks, que muitas vezes são marginalizados, está tentando manter e  
perpetuar sua forma de hipermasculinidade menosprezando e marginalizando as fãs  
mulheres” (Nisbett, 2018, p. 183, tradução minha12), as desencorajando de participarem  
ativamente do fandom, sendo objetificadas. Embora os homens que participam da  
cultura geek, ou nerd, sejam enxergados como pessoas dessexualizadas e  
desmasculinizadas (Jenkins, 1992), dentro deste espaço, eles podem exercer a  
masculinidade hegemônica (Nisbett, 2018).  
12  
This group of geek men, who are often marginalized themselves, are trying to hold onto and perpetuate their  
form of hypermasculinity by belittling and marginalizing female fans.  
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Há pouca representação de pessoas negras na cultura geek e, no caso das  
personagens femininas, há corpos irreais e hiperssexualizados (Jenkins, 2020). Os  
comentários analisados mostram que pessoas com alguma característica diferente do  
personagem sofrem críticas, ofensas racistas e gordofobia. Por esses motivos,  
muitas(os) cosplayers se viram na necessidade de mudar sua cor de pele com  
maquiagem, evitando o sol e editando suas fotos, e no caso das mulheres e meninas,  
muitas perderam peso ou passaram por cirurgias para modificar as proporções de seus  
corpos. Por esse motivo, muitas pessoas se sentiram desencorajadas a iniciar ou  
continuar com a prática de cosplay para, assim, evitar esses comentários ou a frustração  
com seus próprios corpos por não se encaixarem em personagens criados  
majoritariamente por homens brancos (Jenkins, 2020; Nisbett, 2018).  
Apesar disso, com as redes sociais, está sendo mais comum encontrar  
pessoas com raças e corpos diversos fazendo cosplay, como é o caso de Magic Phyra.  
Sua presença na internet e em eventos cosplay, seu discurso acolhedor e o seu modo de  
fazer cosplay, buscando a autoaceitação e diversão, encoraja pessoas diversas a  
persistirem na comunidade, sem a necessidade de mudar seus corpos para isso,  
criando discursos de resistência, e reconhecendo e apontando essas violências  
interseccionais. Magic Phyra leva a mensagem de que o cosplay deve ser algo divertido  
e que o personagem deve se adaptar ao cosplayer e não ao contrário. O vídeo da  
influencer, contando relatos pessoais de experiências vividas na comunidade desde sua  
infância e o seu desejo por mudanças nesses espaços, motivou outras pessoas a se  
abrirem nos comentários e as fizeram se sentirem melhor com seus corpos e com sua  
cor.  
Portanto, é possível concluir que a representação negra vem sendo feita com  
base em estereótipos ao longo dos séculos (Hall, 2016; França et al., 2015), além de ser  
pouca ou única, mostrando que pessoas racializadas são todas iguais e que a  
representação múltipla e complexa é um privilégio branco (Corrêa, Silveira, 2015;  
Carneiro, 2021). Dessa maneira, é necessário abrir diálogos e observar como a sub-  
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representação de negras(os) afetam as pessoas em diferentes épocas e inseridas nos  
mais variados contextos, assim como, o sexismo afeta pessoas de todos os gêneros,  
principalmente mulheres que recebem, desde crianças, imagens hiperssexualizadas e  
corpos inatingíveis.  
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