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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 3 | set-dez | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás
dos pensadores da época, Tomás de Aquino [1225-1274] traz a possibilidade de observar o
movimento exterior do corpo como gesto da alma, onde a sua estrutura profunda – tais como
desejos, sentimentos e pensamentos – está refletida no modo de agir deste (Oertzen, 2015). O
estado do corpo estaria intimamente relacionado com o estado da alma, sendo sua intercessão
a imagem do homem entre o céu e a terra.
(...) Sobriamente buscava não deixar cindir a vida do espírito da vida da
matéria, que foi a característica predominante da vida religiosa até então e,
por outro lado, que esta nova visão científica da natureza não se tornasse uma
interpretação puramente naturalista e racional pois, assim, a matéria perderia
o espírito (Oertzen, 2015, p. 108).
Assim, o corpo velho não transmitiria sentido e segurança à sociedade. Por isso era
destinado a eles, assim como aos moribundos, o isolamento. “O corpo medieval não era um
mero revelador da alma: era o lugar simbólico em que se constituía a própria condição humana”
(Rodrigues, 1999, p. 56). O desgaste natural do corpo refletia uma repulsa social imediata. Uma
das fraquezas dessa sociedade foi o isolamento precoce dos enfermos; seria este, “um
testemunho das dificuldades que muitas pessoas têm em identificar-se com os velhos e
moribundos” (Elias, 2001, p. 5).
Como os membros do estrato mais alto nessas sociedades portavam armas como
apêndice indispensável em sua interação com os outros, pessoas fisicamente consideradas
fracas – tais como velhos, mulheres e crianças – “permaneceriam em geral confinados à casa
ou ao castelo, vilarejo ou quarteirão urbano habitado por seu próprio povo; só podem aventurar-
se fora com proteção especial” (Elias, 2001, p. 24).
A noção platônica da alma concebida como uma substância espiritual, que é a forma do
corpo (Aristóteles), ganha outras interpretações com Aquino. Este compreende a potência da
matéria como sua essência, ou seja, o corpo tem a alma na qualidade de princípio. Um exemplo
para a inseparabilidade entre o corpo e a alma “se traduzia de modo vivo na sensibilidade
medieval relativa à dor” (Rodrigues, 1999, p. 57). O sofrimento corporal tinha um sentido
mítico e coletivo, nunca individual.
A característica estética tinha, para Aquino, a mesma complexidade do pensamento,
visto que se refere ao mesmo objeto, a realidade substancial (Eco, 2010). A questão do
envelhecimento passa a estar atrelada, então, à perda das qualidades, não apenas físicas, mas de
essência do indivíduo. É quando a morte se torna característica habitualmente associada ao
velho – uma forte associação ainda hoje tão comum no Ocidente. O sujeito envelhecido é, neste
ponto de vista, um portador da iminência da morte. A metafísica medieval, para Umberto Eco